Neno, Netinho, Rita, Risonho, Mingo & Manito in June 1964.
How destiny united five young men of Brazilian rock band The Clevers and European sensation Rita Pavone when she arrived in Brazil for a week-long tour in June 1964. Originally Rita Pavone was going to sing accompanied by a full orchestra at São Paulo's Teatro Record, but before the first of a 6 night-engagement she appearead at an afternoon teenager TV show where she was not even supposed to sing but only say 'hello' to the young audience. Out of the blue, the Clevers, who had just finished their number at such a programme started playing the few chords of 'Datemi un martello' while Rita stepped on the stage and she began singing along almost automatically... the whole theatre made up of teen-agers went beserk and the chemestry was established.
After that, it was arranged that Rita would be accompanied by The Clevers during the whole week on top of the full orchestra that would stay in the background and only join in at the slow numbers. The Clevers' manager Antonio Aguillar knew the band would not get a penny out of that but it was arranged that for the sake of publicity, Teddy Reno (Pavone's manager) would allow Aguillar to hint there was a 'romance' between Rita and Netinho, the Clevers' drummer. On top of that, Teddy Reno promised he would take the band to Italy in order to accompany Rita during her summer's touring.
Manito playing a mean saxophone, Netinho on drums, Risonho plays lead-guitar, Mingo on rhythm guitar, Neno on the bass and Rita swinging the joint in June 1964.
J A N E I R O 1 9 6 4
De como o Acaso reuniu os destinos dos cinco rapazes do conjunto The Clevers e a vitoriosa Rita Pavone, um fenômeno europeu que iniciou carreira no final de 1962, estourando na parada italiana com 'La partita di pallone'. No Natal de 1963, Rita Pavone era um nome reconhecido internacionalmente, tendo vendido mais de 3,000,000 de discos, uma cifra extraordinária na época, com mega-sucessos como 'Come te non c'è nessuno', 'Alla mia età' e 'Cuore'.
Em 1964, o empresario de Rita se focou numa carreira internacional para sua protegida, viajando pelos Estados Unidos, Alemanha e França. Em Junho, Pavone excursionou pela America Latina, e chegando ao Brasil, apresentou-se na TV Record de São Paulo, justamente a casa que The Clevers trabalhavam.
Teddy Reno, o empresário de Rita entendeu-se com Antonio Aguillar, o empresário dos Clevers, e a união dos dois fenômenos foi formada... o resto é história e ela é contada aqui nessa página.
The Clevers faziam tanto sucesso que a Continenal lança 'The Clever, Os Incríveis', apenas três mêses após o lançamento do primeiro micro-sulco.
The Clevers na capa da revista Melodias, com o cobiçado troféu Chico Viola 1963 conquistado pelo sucesso de 'El relicário'.
Netinho (in the back) & Aguillar at 'Reino da Juventude'.
I T A L I A
1. Che m' importa del mondo - Rita Pavone
2. O mio Signore - Edoardo Vianello
3. Città vuota (It's a lonely town) - Mina
4. Ridi (Free me) - Michele
5. L' età dell' amore - Françoise Hardy
U. S. A. 25 January 1964
1. There, I've said it again - Bobby Vinton
2. Louie Louie - The Kingsmen
3. I wanto to hold your hand - The Beatles
4. Surfin' bird - The Trashmen
5. Forget him - Bobby Rydell I T A L I A 8 Febbraio 1964
1. Una lacrima sul viso - Bobby Solo
2. Ogni volta - Paul Anka
3. Non ho l' età per amarti - Gigliola Cinquetti
4. Quando vedrai la mia ragazza - Gene Pitney
5. Che m' importa del mondo - Rita Pavone
U. S. A. 15 February 1964
1. I want to hold your hand - The Beatles
2. You don't own me - Lesley Gore
3. She loves you - The Beatles
4. Java - Al Hirt
5. Anyone who had a heart - Dionne Warwick
A B R I L 1 9 6 4
Netinho na bateria, Manito em seu sax, Neno, Risonho e Mingo no auge da fama dos Clevers.
3. Os Incríveis – The Clevers Vol. II PPL-12,114 – 1964 Continental
Lançamento de 'Os Incríveis Volume 2', o 3o. long-playing de The Clevers. Na contra-capa do LP há dados biográficos dos cinco musicos e do empresário que, na verdade, se sentia com o 6o. membro do conjunto.
Luiz Franco Tomaz [Netinho] – nascido em Santos-SP, em 5 Abril 1946. Estudante da 4a. série ginasial no Colégio Oswaldo Cruz. Em casa é o ’xodó’ do vovô, tendo ganhado uma bateria completa deste. Seu time: Corinthians. Prato favorito: feijoada. Artistas prediletos: Paul Newman e Romy Schneider.
Dermeval Teixeira Rodrigues [Nêno] – nascido em Presidente Epitácio-SP, em 15 Junho 1940. Estuda direito na USP,onde cursa o 3o. ano. Toca piston, guitarra e contra-baixo. Time: Palmeiras; prato: vatapá; artistas: Burt Lancaster e Jean Simmons
Waldemar Mozena [Risônho] – nascido em Lins-SP, em 11 Agosto 1943, mas foi criado em Valparaizo-SP, onde era guitarrista de um conjunto que se desfêz por falta de orientação artística. Em São Paulo trabalhou em banco depois de terminado o curso ginasial e estuda inglês. Quando convidado para pertencer a The Clevers, não acreditou que poderia ser famoso como músico e hoje Risonho não quer outra vida. Time: Palmeiras; prato: galeto; artistas: Kirk Douglas e Sandra Dee.
Domingos Orlando [Mingo] – nascido em São Paulo, em 1o. Janeiro 1943. Estudou inglês, tendo faltado pouco para se tornar professor na matéria. Foi escriturário e nas horas vagas estudava piano, acordeon e guitarra, tendo preferido este último. Faz o curso de contabilidade no Colégio Oswaldo Cruz. Time: Palmeiras; prato: macarronada; artistas: Burt Lancaster e Gina Lollobrigida.
Antonio Rosas Sanches [Manito] – nascido em Vigo, na Galicia, província de Pontebedra [Espanha] em 3 de Abril de 1943, vindo p’ro Brasil em 1955, com 12 anos de idade. Estuda musica desde os 4 anos de idade, tendo começado como baterista, mais tarde clarinete, acordeon, gaita-de-fole escocêsa, piano, flauta e sax-tenor. Trabalhou de ajudante de sapateiro com seu pai, na Vila Madalena. Está no quinto ano de música do Conservatório Musical de São Paulo. Pretende seguir curso de regência e é o responsável pelos arranjos do grupo. Time: São Paulo; prato: puchero; artistas: Cantinflas e Sara Montiel.
Antonio Aguillar [empresário] – nascido em São José do Rio Prêto, em 18 Outubro 1929. Veio para São Paulo em 1947. Foi jornalista d’ O Estado de S. Paulo durante 9 anos e atualmente é radialista, trabalhando para a Organização Victor Costa e a TV Excelsior, Canal 9. Tem vários programas e todos dedicados à juventude, com audiências das mais invejáveis. Atualmente é o diretor artístico de The Clevers. Time: Corinthians; prato: frango à passarinho; artistas: Burt Lancaster e Brigitte Bardot.
* Nota: esse texto foi alterado com acrescimo de informações coletadas em Melodias, Revista do Radio etc.
MA I O 1 9 6 4
3 Maio 1964 – domingo – 'Encontro com a Juventude', que começou humildemente às 6as. feiras como parte do 'Show do Meio Dia', programa diário comandado por Hugo Santana, transforma-se em 'Festival da Juventude’ apresentado às 18:00 na TV Excelsior – Canal 9; apresentação Antônio Aguillar e Jacqueline Myrna; produção: A. Legnini.
10 maio
17 maio
24 maio
31 maio
J U N H O 1 9 6 4
Devido ao grande sucesso que o programa 'Festival da Juventude' consegue na TV Excelsior, Paulinho Machado de Carvalho convence Antonio Aguillar a deixar a emissora da rua Nestor Pestana para comandar um programa no mesmo estilo na TV Record, surgindo assim o 'Reino da Juventude', gravado no Teatro Record aos sábados e apresentado no Canal 7 aos domingos às 15:00 horas.
Roberto Carlos é recebido no 'Reino da Juventude' e acompanhado por The Clevers.
14 JUN 1964 – ‘Reino da Juventude’ às 13:00 na TV Record – Canal 7; apresentação de Antônio Aguillar e Eliana Pittman.
‘Festival da Juventude’ às 18:00 na TV Excelsior – Canal 9, fica sem seu idealizador e é apresentado por Hugo Santana no início, sendo logo substituido por Ademar Dutra.
USA 20 June 1964
1. A world without love - Peter & Gordon
2. I get around - The Beach Boys
3. Chapel of love - The Dixie Cups
4. My boy lollipop - Millie Small
5. People - Barbra Streisand
BRAZIL
1. Rua Augusta - Ronnie Cord
2. Datemi un martello - Rita Pavone
3. Rítmo da chuva [Rhythm of the rain] - Demétrius
4. Parei na contra-mão - Roberto Carlos
5. I want to hold your hand - The Beatles
ITALY
1. Cin cin [Cheat cheat] - Richard Anthony
2. È l'uomo per me [He walks like a man] - Mina
3. Amore scusami - John Foster
4. Con te sulla spiaggia - Nico Fidenco
5. Angelita di Anzio - I Marcellos Ferial
GERMANY
1. Oh my darling Caroline - Ronny
2. Non ho l'età [per amarti] - Gigliola Cinquetti
3. Komm, gib mir deine Hand (I want to hold your hand) - The Beatles
4. Needles and pins - The Searchers
5. Shake hands - Drafi Deutscher
Rita Pavone se apresenta no 'Reino da Juventude' no sábado, 20 Junho 1964.
Tournée de Rita Pavone no Brasil
20 JUN 1964 [sab] - Rita Pavone chega ao Aeroporto de Viracopos procedente de Buenos Aires
Rita apresenta-se no programa “Reino da Juventude” comandado por Antonio Aguillar no Teatro Record de São Paulo - The Clevers a acompanham em 'Datemi un martello'.
21 JUN 1964 [dom] ’Reino da Juventude’ é transmitido em video-tape as 15 horas, pela TV Record
22 JUN 1964 [2a.] - Rita ensaia com The Clevers
23 JUN 1964 [3a.] - Rita & Clevers se apresentam no Teatro Record as 20:00 e 22:00
24 JUN 1964 [4a.] - shows as 20:00 e as 22:00 horas no Teatro Record
25 JUN 1964 [5a.] - Rita & Clevers voam para o Rio de Janeiro onde se apresentam na TV Rio e Clube Libanês
26 JUN 1964 [6a.] - shows as 20:00 e 22:00 horas no Teatro Record
27 JUN 1964 [sab]- shows as 17 horas e 21 horas no Teatro Record
28 JUN 1964 [dom]- ultimas apresentações de Rita Pavone & Clevers as 17 e 21 horas.
29 JUN 1964 [2a.] - Rita Pavone parte para o Rio e de lá num avião da Alitalia para Roma [Fiumiccino].
Participação de RITA PAVONE no programa ‘Reino da Juventude’ de Antonio Aguillar, relatado em seu livro lançado em Dezembro de 2005.
A TV Record de São Paulo foi pioneira na apresentação de grandes atrações internacionais. Foi assim que se apresentaram em seu auditório, artistas famosos como Bill Haley & His Comets, Brenda Lee, Johnny Restivo, Frankie Lymon & the Teenagers, Paul Anka, Neil Sedaka e Rita Pavone, entre outros. Eles vinham para participar de shows especiais, com público pagante durante 5 ou 6 dias seguidos. Isso causava grande repercussão na imprensa.
Em 1964 foi a vez da Record trazer a cantora italiana Rita Pavone. Seu grande sucesso, ‘Datemi un martello’, figurava nas principais paradas de sucesso da Europa e America Latina. No Brasil, Rita também ocupava posição de destaque nas radios, principalmente em São Paulo, onde a colônia italiana era muito grande.
Inicialmente, a cantora não se apresentaria no Reino da Juventude. Por contrato, ela só participaria de show exclusivos entre os dias 23 e 28 de junho. Mas Aguillar tentou bolar um jeito de apresentá-la em seu programa de sábado, mesmo que ela não pudesse cantar. Pensava em algum tipo de prêmio, alguma homenagem que justificasse sua presença no programa. Lembrou-se então, do seu amigo italino Giorgio Gianinni, um dos donos da famosa fábrica de instrumentos musicais de mesmo nome. Muito inteligente e excelente vendedor, foi ele quem surgeriu a Aguillar que convidasse Rita par ir ao Reino da Juventude e receber das mãos do apresentardor uma guitarra dourada. Aguillar achou a idéia ótima, mas na época não existia nada assim no mercado. Nem na fábrica Gianinni. Mas a resposta do italiano foi pronta: ‘Eu te faço uma exclusiva, belo’.
Stelvio Cipriani ao piano, Netinho na bateria, Rita Pavone, Mingo, Manito, Neno, Teddy Reno e Risonho (escondido atrás do Teddy).
E assim foi feito. Cerca de uma semana depois, Aguillar recebeu a guitarra dourada. Posteriormente acertou com Teddy Reno, empresário de Rita Pavone, a participação da cantora no programa, para ser homenageada e receber a guitarra dourada. Infelizamnte, por contrato, Rita não poderia cantar nada. Aguillar compreendeu e disse que não pediria a Rita para cantar. Mas não disse que a impediria de cantar, se tivesse vontade. Imediatamente, reuniu os Clevers e ensairam ‘Datemi un martello’ quase à exaustão. Mexeram nos arranjos, criaram novas variações. Ficou muito bonito. Segundo Aguillar, melhor que o disco. No sabado, dia 21 de junho, gravação do programa, tudo estava preparado. Nem mesmo Paulinho Machado de Carvalho sabia detalhadamente o que ia acontecer. Quando fora contratado, Aguillar havia recebido carta branca, e agora estava fazendo uso dela.
A casa estava cheia. Antes de chamá-la, o apresentador tomou o cuidade de fazer um resumo da carreira dela e preparar o ambiente para que ela fosse recebida com todo o carinho. Então, encheu o peito e anunciou: ‘Juventude feliz e sadia do meu Brasil, vamos receber a grande cantora italiana Rita Pavone!’.
Quando Rita Pavone entrou no palco, imediatamente the Clevers começaram a tocar ‘Datemi un martello’. A platéia ficou maluca e começou a cantar e dançar. Rita Pavone não esperava por aquilo e ficou contagiada com o que via e ouvia. Convenientemente postado perto dela, segurando a guitarra dourada e um microfone, Aguillar se aproximou. Rita pegou o microfone e cantou lindamente a música:
‘Não poderia ter sido melhor. Foi tudo perfeito. A Rita adorou the Clevers e pediu para que eles a acompanhassem durante sua permanência no Brasil. Esse acontecimento abriria as portas internacionais do sucesso para os meninos, mas seria também o início da nossa separação’.
Exuberância no palco do Teatro Record em Junho de 1964. Rita Pavone acompanhada pelo pianista Stelvio Cipriani e a orquestra do Teatro mais Netinho na segunda bateria, Mingo na guitarra, Manito no saxofone, Risonho na guitarra solo e Neno no baixo. Espetáculo total...
Rita Pavone, Mingo, Antonio Aguillar, pianista Stelvio Cipriani, Manito & Netinho.
Brancato Jurnior assina o contrato com Teddy Reno para ser o empresário de The Clevers durante a excursão à Europa, na qual eles acompanhariam Rita Pavone em sua excursão de verão pela Península. Antonio Aguillar confere tudo.
Junho 1964 na Italia
Cantagiro, uma competição canora realizada entre junho e julho, foi inspirada no Giro d’Italia de ciclismo, e consistia numa caravana de cantores e conjuntos que se locomoviam em carros esportes, geralmente abertos, entre várias cidades italianas, competindo entre si em shows noturnos realizados ao longo dessa rota, sendo julgados por juris populares escolhidos pelo publico desses locais. Era quase uma ‘Caravana dos Bairros do Nelson’, com duração de quase 20 dias. Os dias mais quentes, literalmente.
Depois de cada espetáculo, onde cantavam os principais concorrentes, era anunciado o vencedor da noite, para depois, chegar-se à final, na cidade de Fiuggi, onde era anunciado o vencedor absoluto. Havia duas modalidades no certame: Girone A, com cantores famosos, e Girone B com cantores ainda em início de carreira. A partir de 1966 comecou o Girone C, só para conjuntos, que estavam cada vez mais populares, depois do advento dos Beatles e Rolling Stones em 1964.
Cantagiro começou em 1962, com Adriano Celentano, o ídolo absoluto da juventude italiana, vencendo com ‘Stai lontana da me’, e revelando a suave Donatella Moretti com ‘L’abbraccio’. Cantagiro já começou vitorioso, sendo que em 1963, o vencedor do Girone B, Michele, um rockeiro à la Elvis Presley, cantando ‘Se mi vuoi lasciare’, fez mais sucesso que o vencedor do Girone A, Peppino di Capri com ‘Non ti credo’.
Cantagiro de 1964 deu a partida em 26 junho, quando Rita Pavone ainda se apresentava no Teatro Record de São Paulo. Logo no início, já se notava que o vencedor seria Gianni Morandi, com ‘In ginocchio da te’, uma balada nos moldes antigos, mas com orquestração luxuriosa e interpretada aos gritos por Morandi, que conquistava a Italia aos poucos, enquanto a caravana seguia por Ancona, Terni, Pescara, Fermo e Cervia.
Entre os concorrentes mais fortes estavam Edoardo Vianello com ‘Tremarella’, Michele com a linda ‘Ti ringrazio perchè’, Gino Paoli com ‘Lei stà con te’, Little Tony com ‘Non aspetto nessuno’, Donatella, Pino Donaggio, Nini Rosso, Isabella Ianetti, Betty Curtis e outros.
No Girone B, Dino com ‘Eravamo amici’, La Cricca com ‘Il surf delle mattonelle’, Giancarlo Guardabassi, com ‘Se ti senti sola’, Roby Ferrante com ‘Non ti ricordi più’, mais Fausto Leali, Lucio Dalla e Nicola di Bari, que viriam a ser ‘superstars’ nos proximos anos.
1o. JUL 1964 – quarta-feira - Rita Pavone, Teddy Reno, la ‘Mamma’ e o pianista Stelvio Cipriani desembarcavam em Roma, em vôo vindo do Rio de Janeiro, com escala em Dakar, na Africa. Teddy, o empresário, não dormia no ponto, e já sabendo que o Cantagiro era sucesso, tratou de colocar Rita, mesmo ‘hors concours’ no palco de Mestre, nas imediações de Veneza naquela noite mesmo.
E lá Rita cantou ‘Datemi un martello’, gravação lançada há quase um ano, para delírio geral dos 10.000 espectadores.
Quando Rita cantou ‘Scrivi’, seu mais recente lançamento em compacto, como 2º número da noite, a platéia gelou. Não houve vaias nem aplausos. A imprensa especializada, representada em TV Sorrisi e Canzone, publicou reportagem sobre noite fatídica, que se pensava que o fenômeno Rita Pavone tinha chegado ao fim. O artigo está no final desse relato [Adendo A] para quem quiser sentir o que foi a ‘noite que Rita Pavone acabou’.
O que aconteceu foi, na verdade, simples: Cantagiro era uma festa onde só musicas ‘fortes’ arrancavam aplausos calorosos. ‘Scrivi’ é uma música de acordes parecidos, que tem que ser muito bem executada para não se tornar ‘chata’. The Clevers a acompanhava com verve durante sua tournee brasileira. Chegando no Cantagiro, Rita se fez acompanhar de um conjunto formado por vários músicos díspares, que não conheciam a melodia, e o resultado foi catastrófico.
Depois de uma reunião emergencial, Teddy deu as coordenadas: Rita não cantaria mais ‘Scrivi’, mas ‘Cuore’, ‘Come te non c’è nessuno’ e outras mais conhecidas. Teddy emprestou músicos dos conjuntos que acompanhavam Celentano, Peppino di Capri e Little Tony para reforçar Rita.
Esse incidente foi mais uma razão para que The Clevers fossem esperados com mais ardor ainda. Rita Pavone, a cantora jovem mais popular da penísula não tinha um conjunto fixo que a acompanhasse, algo impensável nos dias de hoje. The Clevers poderiam se tornar seu conjunto fixo. Se isso não aconteceu, não se sabe as razões. Talvez justamente devido ao ‘romance’ entre Rita e Netinho, que era foco de muita curiosidade por parte da imprensa italiana, que óbviamente não sabia que era apenas um golpe publicitário.
Moral da história: quando Aguillar ‘bolou’ o romance entre Rita e Netinho, ele o fez pensando na ‘fama’ para os brasileiros, mas o tiro saiu pela culatra. Realmente eles conseguiram fama inicial, mas justamente devido a esse ‘romance’, o contrato dos rapazes não foi renovado na Italia, e eles voltaram para a America do Sul.
Julho 1964 na Italia
2 JUL 1964 - Cantagiro contina em Comerio. Em Alessandria Rita já canta mais sossegada e o sucesso volta à toda. E o Cantagiro continua por Modena, Sestri Levante, Marina di Massa, Perugia, Roma, Salerno.
11 JUL 1964 – Cantagiro termina triunfalmente em Fiuggi, com Gianni Morandi vencendo a finalissima com ‘In ginocchio da te’, que chega ao 1o lugar na parada nacional, ficando no topo por 15 semanas. Um dos maiores sucessos de todos os tempos, sendo o primeiro 45 rpm a vender 1 milhão de cópias na Península.
No Brasil
25 JUL [sab] - Clevers se apresentam pela última vez no programa ’Reino da Juventude’, onde apresentam The Flyers ao público, como seus sucessores.
29 JUL [4ª] - The Clevers embarcam para Itália em Viracopos num avião Alitalia.
Netinho, Mingo, ...., Antonio Aguillar, Risonho & Neno na pista do Aeroporto de Viracopos para embarcar no jato da Alitalia.
The Clevers (Neno, Mingo, Risonho, Netinho, Manito) tocam seu último número no 'Reino da Juventude' no Teatro Record, tendo The Flyers esperando na retaguarda para tomarem o posto deles. The Clevers viajariam para a Italia na semana seguinte, onde acompanhariam Rita Pavone em sua excursão de verão de 1964.
Viajam THE CLEVERS, surgem THE FLYERS
[mais um relato de Aguillar em seu livro de 2005]
Rita Pavone foi acompanhada pelos Clevers em todos os shows que fez em São Paulo e Rio de Janeiro. Gostou tanto do som do conjunto que convenceu seu empresário Teddy Reno a negociar a ida do grupo à Italia, para acompanhá-la em sua próxima tourne de verão. Aguillar viu nisso uma boa oportunidade para iniciar a carreira internacional dos Clevers. Resolveu também criar um fato interessante, que virasse notícia e promovesse a imagem do grupo e também de Rita.
Quando veio fazer sua tournee no Brasil, Rita Pavone era ainda um grande nome, mas não estava mais no topo das paradas italianas devido a ter se ausentado de seu país para se dedicar à carreira na Alemanha e Estados Unidos.
O verão europeu que começa em Junho, é uma época que cantores e conjuntos ganham muito dinheiro fazendo shows ao vivo pelo país inteiro. Rita, devido Ter se concentrado em sua carreira internacional, estava sem conjunto fixo para acompanhá-la em sua tournee ‘estiva’ [de verão]. Depois das primeiras noites se apresentando com The Clevers no Teatro Record ela e o empresário viram que the Clevers podiam muito bem preencher essa lacuna, e foi quando Rita manifestou o desejo de que os cinco brasileiros fossem com ela p’ra Italia para o grande circuito de veraneio.
Quando Teddy Reno procurou Aguillar para fechar um acordo, pouco tempo antes da última apresentação de Rita, o apresentador propôs que divulgassem um suposto romance entre ela e o baterista Netinho. No começo, Teddy não gostou muito da idéia. Netinho também ficou com receio de ser pivot de uma confusão. É que ele sabia que Teddy já namorava Rita Pavone às escondidas, e só por uma questão de marketing a cantora se dizia descompromissada. Mas, diante da argumentação de Aguillar, os dois concluíram que seria uma boa maneira de revitalizar a carreira da Rita e, ao mesmo tempo, promover o conjunto brasileiro no exterior.
Assim, devidademente orientados por seus empresários, Netinho e Rita Pavaone iniciaram um discreto namoro, amplamente divulgado pela imprensa nacional e, depois, a internacional. Durante as apresentações em São Paulo e posteriormente no Rio de Janeiro, no dia 25 de junho, Rita fazia questão de demonstrar seu afeto por Netinho, ficando próxima dele durante alguns momentos do show, trocando olhares e sorrisos. Os gestos de carinho eram mútuos. Num dos shows, a cantora recebeu flores e fez questão de retirar uma delas do bouquet para colocá-la na bateria de Netinho. Ele, por sua vez, na partida da cantora para a Itália, deu-lhe de presente um LP dos Clevers com uma dedicatória afetuosa, ansiando pelo reencontro. Aguillar afirma que eles representavam tão bem que ele mesmo já estava acreditando no romance.
‘O romance, realmente, foi uma jogada de marketing. Mas era até bonito ver o carinho que eles passavam para os fãs. Rita era muito divertida. No curto período em que esteve no Brasil, quis conhecer os locais onde the Clevers costumavam tocar à noite em São Paulo. Nós a levamos à boite Lancaster, e ela se divertiu muito. Como não era o centro das atenções, ficou totalmente à vontade. Dancou, pulou, subiu ao palco. Ela era baixinha, de cabelos curtos, parecia uma criança. Ficou apaixonada pela alegria da juventude brasileira.’
Aguillar e Teddy Reno acertaram os detalhes da a ida dos Clevers para a Itália. Eles acompanhariam a tournee de verão de Rita Pavone naquele país. Depois, dependendo da recepção do público italiano, seguiriam para outros países. O grupo, portanto, deveria ficar fora do Brasil por no mínimo dois meses.
Havia, porém, um problema a ser resolvido. Caso acompanhasse the Clevers nessa tournee, Aguillar teria que se afastar de seus programas na Radio Nacional e TV Record. Otimista como era, ele sabia que eles fariam sucesso e, certamente, a tournee seria longa. Decidiu, então, enviar em seu lugar uma pessoa de sua confiança para acompanhar e assessorar the Clevers. Tão logo tomou essa decisão, reuniu os musicos, juntamente com o amigo que iria acompanhá-los, e deu todas as orientações: deixou claro que queria uma porcentagem sobre tudo o que fosse arrecadado na tournee. Afinal, no contrato onde fora registrada a criação dos Clevers, ele figuarava como o sexto elemento do grupo. Os garotos acharam justo o acordo e comprometeram-se a se comportar bem durante a tournee. Os Clevers eram talentosos, mas eram meninos ainda, sem experiência internacional e deslumbrados com as portas que se abriam para eles.
‘Confesso que quase larguei o rádio e a TV para ir com eles’, conta Aguillar. ‘Mas a pessoa que iria acompanhá-los, Brancato Júnior, além de produtor experiente de televisão, era até então meu fiel amigo. Ele me tranqüilizou e prometeu que cuidaria de tudo e me manteria informado sobre todos os passos do grupo’.
Na ocasião, outro amigo de Aguillar, o competente e veterano músico Poly, ao saber que ele havia entregue os garotos à tutela de Brancato Jr., disse-lhe simplesmente: ‘Aguillar, você acabou de contratar o padrasto das crianças’. Aguillar não levou o comentário a sério. Achou que era implicância e rabugice de Poly. Infelizmente, teria uma grande decepção no futuro.
Já sabendo não poder contar com the Clevers por um período de tempo relativamente longo, Aguillar resolveu criar um novo conjunto no mesmo estilo. Novamente, tirou algumas fichas de seu arquivo. Convocou o guitarrista Guilherme Dotta [Tico] e o baterista Walfrido Costa Filho [Pulinho], habituais freqüentadores de seus programas de rádio e TV, e pediu-lhes que indicassem mais três amigos, para formar um grupo, que teria a mesma formação dos Clevers: um saxofonista, dois guitarristas, um contrabaixista e um baterista. A exemplo dos Clevers, o grupo seria registrado pelo apresentador e se apresentaria com exclusividade nos seus programas de rádio e TV, inclusive acompanhando cantores convidados.
Assim surgiram The Flyers, sendo eles: Riverte de Oliveira Santos [Lumumba] ao saxofone; Walfrido Costa Filho [Pulinho] na bateria; Vicente Ferrer Juan [Fafá] no contrabaixo; Guilherme Dotta [Tico] na guitarra-base e João Fernandes da Silva Borges de Miranda [Patinho] na guitarra-solo.
The Flyers
Após alguns ensaios, percebendo que the Flyers estavam afinados e entrosados, Aguillar levou-os à gravadora RCA Victor, onde tinha contato com o diretor Ramalho Neto. Alí the Flyers gravaram um LP instrumental que incluía ‘Canção do amor perdido’, composta por Romeu Mantovani Sobrinho, o Aladim, guitarrista dos Jordans. O repertório musical incluía ‘Surf delle mattonelle’ e ‘Sul cucuzzolo’, mostrando a influência da jovem musica italiana naquela época, mais o ‘trivial’ comum aos conjuntos intrumentais, Shadows, Ventures, Duane Eddy, além de ‘La spagnola’, regravação de musicas antigas com roupagem de twist. O grupo aconteceu rapidamente, devido à divulgação no radio e TV.
Em 25 Julho 1964, sábado que antecedeu o embarque dos Clevers para a Itália, Aguillar realizou um ’especial’ do programa ’Reino da Juventude’, no qual fez a despedida deles e a apresentação oficial dos Flyers. Sempre fazendo jus à fama de inovador, Aguillar surpreendeu ao apresentar the Flyers trajando coletes vermelhos e capacetes de motoqueiros, os ’voadores’ em suas máquinas. Como antes, Aguillar conseguiu programar uma série de shows do grupo nos principais clubes e casas noturnas da cidade, e fechou um contratro para que tocassem na badalada boite Lancaster.
A G O S T O 1 9 6 4
1. A hard day's night - The Beatles
2. Everybody loves somebody - Dean Martin
3. Where did our love go? - The Supremes
4. Wishin' and hopin' - Dusty Springfield
5. The girl from Ipanema - Astrud Gilberto & Stan Getz
BRAZIL 29 Agosto 1964
1. Scrivi! - Rita Pavone
2. Datemi un martello - Rita Pavone
3. Una lacrima sul viso - Bobby Solo
4. Que queres tu de mim? - Altemar Dutra
5. La bamba - Prini Lorez
ITALY
1. In ginocchio da te - Gianni Morandi
2. Sei diventata nera - I Marcellos Ferial
3. Ti ringrazio perchè - Michele
4. Tremarella - Edoardo Vianello
5. Scrivi!-Ti vorrei parlare - Rita Pavone
1. In ginocchio da te - Gianni Morandi
2. Sei diventata nera - I Marcellos Ferial
3. Ti ringrazio perchè - Michele
4. Tremarella - Edoardo Vianello
5. Scrivi!-Ti vorrei parlare - Rita Pavone
Tournée dos Clevers na Itália
2 AGO 1964 [dom] - Rita e The Clevers em concerto no Caprice, primeiro dos shows que farão em 30 cidades da Península.
22 AGO 1964 [sab] 1o. lugar no Brasil – 'Scrivi' – Rita Pavone [parada da Revista do Radio]
1o. lugar nos USA – 'Where did our love go?' – The Supremes
1o. lugar na Italia – 'In ginocchio da te' – Gianni Morandi
23 AGO 1964 [dom] Rita faz 19 anos – The Clevers [Netinho é quem entrega o presente] dão um martelinho de ouro à Rita no Lido Hotel de Veneza.
The Clevers & Rita encerram sua tournée de verão no Lido Hotel, se apresentando para os artistas que participaram do Festival de Cinema de Veneza, tendo na platéia, Darryl Zanuck, diretor da 20th Century-Fox.
O 'romance' entre Rita Pavone e Netinho deu pano p'ra manga...
S E T E M B R O 1 9 6 4
6 Setembro 1964 – Domingo – ‘Festival da Juventude’ as 18:00 na TV Excelsior, Canal 9 – apresentação: Ademar Dutra & Clarice Amaral. Depois da saída de Aguillar do Canal 9, a Excelsior pôs Hugo Santana para apresentar o ‘Festival’, logo em seguida sendo substituído pelo Ademar Dutra, DJ jovem da Radio Nacional, que levou o programa até 1965.
8 Setembro 1964 – Festa de encerramento do Festival de Cinema de Veneza, ultima apresentação de Rita Pavone com The Clevers. O filme vencedor do certame é ‘Deserto rosso’ [Deserto vermelho] de Michelangelo Antonioni. Durante a apresentação, a rockeira Rita senta-se no colo de Daryl Zanuck, o chefão da 20th Century-Fox, cuja amante era a francesa chansonier Juliette Greco. Um grupo de cineastas brasileiros assistem ao show empolgados com a performance dos brasileiros Clevers.
Rita brinca com o poderoso Darryl Zanuck, sentando em seu colo enquanto cantava na noite de encerramento do Festival de Cinema de Veneza, ultima performance da italianinha com os cinco rapazes dos Clevers, que no dia seguinte aprontaram suas malas para voltarem ao Brasil.
Rita brinca com o poderoso Darryl Zanuck, sentando em seu colo enquanto cantava na noite de encerramento do Festival de Cinema de Veneza, ultima performance da italianinha com os cinco rapazes dos Clevers, que no dia seguinte aprontaram suas malas para voltarem ao Brasil.
16 Setembro 1964 – Françoise Hardy apresenta seus sucessos no palco do Teatro Record, pelo Canal 7.
Sucessos no mundo – seção ‘Intervalo Musical’ de Ademar Dutra [revista de 4 outubro 1964]
U.S.A. September 1964
1. The house of the rising sun - The Animals
2. Oh! Pretty woman - Roy Orbison
3. Bread and butter - The Newbeats
ARGENTINA
1. Changuito cañero - Palito Ortega
2. Las cerezas - Hermanos Carñon
3. Pido paz (Just once more) - Rita Pavone
JAPAN
1. Non ho l'età [per amarti] - Gigliola Cinquetti
2. Please, Mr Postman - The Beatles
3. From Russia with love - Kenny Ball
O U T U B R O 1 9 6 4
4 OUT 1964 – domingo – Festival da Juventude – TV Excelsior – Ademar Dutra comanda desfile de cantores da musica popular moderna. Atrações de hoje: Tony Campello, The Bells, Vikings, Vips, Balé Excelsior e outros. O programa é gravado aos sábados às 20:00.
15 OUT 1964 – Intervalo de 9 Novembro, informa que foi um sucesso o show organizado pelo Clube do Clan no Ginásio São Salvador, em homenagem ao Dia do Professor, transmitido pela Radio Excelsior, animado por Ademar Dutra, estando presentes: Albert, Orlando Alvarado, Pedro Wilson, the Rebels, the Vikings e Os Assassinos do Rítmo.
The Clevers voltam ao Brasil, brigam com Antonio Aguillar, que fica com o nome The Clevers, pois o tinha registrado em cartório em seu nome. Os rapazes adotam o nome de Os Incríveis, que era um adjetivo que aparecia nas capas de seus discos desde ’The Clevers, os incríveis’, seu 2º LP, lançado em janeiro de 1964.
Lançamento de 2 discos com The Clevers: 1 compacto-duplo e 1 compacto-simples:
‘Os internacionais The Clevers’ com ‘Datemi un martello’ / ‘Sul cucuzzolo’ / ‘Parabéns a você’ / ‘Michael’
compacto-duplo lançado pela Continental.
‘In ginocchio da te’ [A] e ‘Raunchy’ [B] – compato-simples com The Clevers.
D E Z E M B R O 1 9 6 4
THE CLEVERS e Aguillar: o fim [relato de Aguillar em seu livro de 2005]
Enquanto the Flyers ganhavam espaço, apresentando-se no radio e TV e fazendo shows no Lancaster, the Clevers viajavam pela Europa. Depois da tournee com Rita Pavone pela Italia, quando foram muito elogiados, eles receberam muitos convites para apresentações em outros países.
Fizeram muito sucesso em Buenos Aires, onde gravaram ‘Il tangaccio’ e ‘Veneno’. Além da qualidade e versatilidade do grupo, as notícias sobre o romance entre Rita Pavone e Netinho ajudavam a promover the Clevers e vender revistas também na Argentina e Europa.
Durante a tournee com Rita Pavone, Aguillar não esperava lucro algum. Como o grupo precisava da divulgação que Rita e Teddy Reno lhes dariam na Itália, a participação do grupo foi negociada praticamente em troca de passagem, boa hospedagem e alimentação. Eles apostavam suas fichas na segunda etapa da tournee. Foi o que aconteceu. Aguillar recebia cartas de Brancato Jr., relatando a boa impressão que the Clevers estava causando onde passavam. O que ele não dizia era que os garotos, inexperientes, se deslumbraram com o sucesso e gastavam dinheiro com banalidades e equipamentos modernos, sem reservar a parte que cabia ao Aguillar.
‘O amigo a quem confiei a missão de me representar e cuidar dos Clevers acabou fazendo a cabeça dos rapazes contra mim. De amigo e mentor, fui transformado em explorador do grupo. Eu era o cara que só queria ganhar dinheiro, mas quem trabalhava eram eles. Infelizmente, o amigo em quem confiei, vendo o potencial e o carisma dos Clevers, acabou me apunhalando pelas costas, na intenção de empresariá-los com exclusividade, tirando-me da jogada.’
O relacionamento entre Aguilar e the Clevers estava no final. Magoado com a traição do amigo, o apresentador decidiu dissolver a parceria, retirando também o nome do grupo, que era de sua propriedade, por contrato. Isso aconteceria assim que o grupo desembarcasse no Brasil. Não divulgou essa decisão a ninguem. Nessa mesma época, início de 1965, Aguillar procurou preservar the Flyers e, para mantê-los longe da briga com the Clevers, acertando uma tourne no Uruguai, no período de Carnaval, para animarem bailes e shows. Infelizmente, numa situação imprevista, the Flyers encontraram-se com the Clevers, que ainda estavam por lá.
‘Eles encheram tanto a cabeça dos Flyers, que, quando voltaram do Uruguai, estavam tão desmotivados e descontentes que acabaram se separando pouco tempo depois, buscando alguém que cuidasse melhor deles. Foi uma pena, pois eles tinham tudo para ser um grupo tão bom quanto the Clevers’.
A briga entre Aguillar e the Clevers foi parar na justiça e, inevitavelmente, na imprensa. The Clevers estavam no auge da fama, com o LP ‘Os incríveis The Clevers’ ainda entre os mais vendidos. Em maio de 1965 foi fechado um acordo provisório entre as partes. A revista Intervalo, de 29 de maio, trazia o resumo do acordo:
‘Os componentes do conjunto The Clevers estão livres dos compromissos artísticos com o empresário Antonio Aguillar, para qualquer atividade profissional, desde que não usem mais o nome ‘Clevers’. A denominação ‘Os Incríveis’, título de LPs produzido por Aguillar para a Continental, que era também registrado em nome do apresentador, foi cedida por ele ao grupo, e os ex-Clevers passam a chamar-se Os Incríveis’.
Aguillar ficou com o nome The Clevers, e os cinco músicos com Os Incríveis.
Aguillar continuou a apresentar o programa ‘Rítmos para a Juventude’ na Radio Nacional de São Paulo, e ‘Reino da Juventude’, pela TV Record. Mas, depois desse episódio, a imagem do apresentador acabou prejudicada.
Nessas situações, o público tende a ficar do lado do artista. Foi o que aconteceu no caso dos Clevers. Aguillar apareceu como o vilão da história, o empresario sem coração, o ganancioso.
O caso provocou uma queda na audiência do programa de TV. Solidários aos Clevers, alguns musicos e cantores deixaram de freqüentar o programa. Durante algum tempo the Flyers ainda participavam do programa, mas gradativamente foram perdendo a vibração e o interesse, fazendo com que Aguillar os liberasse.
Perda do nome The Clevers e briga entre The Clevers e o empresário Antonio Aguillar:
Analisando o relacionamento entre Aguillar, um homem de 35 anos, com seus ’apadrinhados’, Neno 24 anos, Mingo 21, Risonho 21, Manito 21 e Netinho 18, chega-se à conclusão de que houve aí um desentendimento baseado na diferença de idade e perspectivas.
Aguillar sentia-se como se fosse o ’6º’ elemento dos Clevers. Basta olhar a contra-capa do 3º LP do conjunto, onde há fotos dos 5 rapazes e, acima, do lado esquerdo, uma foto do empresário, como se ele fosse parte integral do conjunto. Brian Epstein, empresário dos Beatles nunca se atreveria a ser o ’5o Beatle’, nem colocar sua foto na contra capa de ‘With the Beatles’. Aliás, empresário algum tinha tal comportamento, por mais que gostassem de seus pimpolhos. Nem mesmo o famoso Coronel Parker, que guiava a carreira de Elvis Presley com ‘mão-de-ferro’ se atrevia a ser tão conspícuo como o radialista-empresário paulista.
Na mesma contra-capa, nota-se indícios de que Aguillar tinha uma postura de ’dono’ ou ’criador’ dos Clevers. Em seus dados biográficos aparece: ’Responsável por lançamento de vários conjuntos musicais dedicado à musica jovem, e atualmente é o diretor artístico do conjunto The Clevers.’
Mais em baixo, comentando sobre Risonho, escreve: ...’Em Valparaizo era guitarrista de um conjunto que se desfêz por falta de orientação artística.’ Aguillar achava que sem sua ’orientação artística’ the Clevers não existiriam.
No prefácio do livro de Albert Pavão, Aguillar descreve como surgiu the Clevers: ’Eu havia perdido a colaboração dos Jordans que, gravando e vendendo discos, faziam shows pelo Brasil afora. Antes tinha também perdido os Jet Black’s, que mudaram-se de armas e bagagens para a Chantecler, levados pelo radialista Miguel Vaccaro Netto.’
Aguillar já tinha sido ’abandonado’ por duas de suas ’criações’ e não queria que isso ocorresse novamente. Ele continua: ’Por determinação deles fui a um despachante e mandei registrar o nome Clevers e fiz um contrato com todos por tempo indeterminado como diretor do grupo ou 6º integrante.’
Aguillar queria prender o que não se pode prender. E não demorou mais de 1 ano e meio para que tudo se desmoronasse como um castelo de areia, pois o sucesso dos Clevers foi maior que um ’pedaço de papel’ carimbado por um ’despachante’. Aguillar acreditou que pudesse controlar os acontecimentos e acabou sendo atropelado por eles.
No fim Aguillar ficou com o nome ’Clevers’ amargurando uma grande derrota. E surgiram Os Incríveis, como poderia ter tido qualquer outro nome, os Estupendos, os Malabaristas, os Sensacionais, os Adoráveis etc.
S C R I V I
O artigo abaixo, retirado de ‘TV Sorrisi & Canzone’, uma das mais populares revistas semanais da Itália, relata o que se passou com Rita Pavone, em sua primeira apresentação no Cantagiro 1964, recém chegada de uma vitoriosa tournee mundial que a tinha levado aos USA e América Latina.
Rita tinha se ausentado da Itália o primeiro semestre de 1964. Seu ultimo 45 giri, ‘Scrivi’, fora gravado nos estúdios da RCA Victor em New York, em cima de play-back enviado de Roma, tal a premência de se lançar um disco seu para o verão.
Rita incluiu ‘Scrivi’ em sua tournee sul-americana, tornando-se um grande sucesso, tendo cantado-a dezenas de vezes em apresentações em São Paulo e Rio, acompanhada sempre pelos valentes the Clevers, sendo um dos pontos altos do show dela aqui. No Rio de Janeiro, uma gravação ‘ao vivo’de ‘Scrivi’, retirada do video-tape da apresentação dela com os Clevers na TV Rio, Canal 13, tocava direto nas radios cariocas. Nessa gravação, Rita terminava a canção abruptamente com ‘solo una parola’, e a platéia vinha abaixo em aplausos.
Isso foi aqui no Brasil. Já na Itália a coisa aconteceu inversamente proporcional. Quando Rita apresentou ‘Scrivi’ no Cantagiro 1964, para uma platéia de mais de 10.000 pessoas que lotava o estádio da cidade de Mestre, houve uma recepção gélida de um público que até minutos atrás vibrava com sua interpretação de ‘Datemi un martello’.
Esse artigo trata justamente do que aconteceu na noite de 1º de Julho de 1964. Note-se que os jornalistas da ‘Sorrisi & canzoni’ que acompanhavam o Cantagiro não eram muito simpáticos à Rita, pois dizem, a certa altura, que ‘Datemi un martello’, uma música surf de Trini Lopez, Rita não tinha conseguido fazê-la ‘sua’. Os repórteres estavam totalmente enganados. Primeiro porque ‘If I had a hammer’ não era um ‘surf’ de Trini Lopes. É uma musica ‘folk’ de Pete Seger. Segundo, a versão de Sergio Bardotti não tem nada a ver com a gravação de Trini, com seus ‘ui-uis’ e gritos de ‘everybody now’. Os jornalistas, obviamente, não entenderam nada, além de serem preconceituosos.
Dito isso, vamos ler o que aconteceu naquela fatídica noite. The Clevers ainda se preparavam aqui em São Paulo para a viagem à Italia para acompanhar Rita no restante de sua tournee de verão. Deduz-se pelo artigo que o conjunto que acompanhou Rita em ‘Scrivi’ não era dos melhores. Quem sabe o segredo do ‘fracasso’ da música não tenha estado justamente aí?
Scrivi é uma musica aparentemente ‘sem-graça’, pois não há muitas mudanças nos acordes iniciais. Mas ela vai ‘crescendo’ e a certa altura há um acorde com diminuta, até se chegar ao ápice. Se ela não for muito bem executada, tendo inclusive um coral ao fundo, ela torna-se ‘chata’. The Clevers sempre conseguiram levar Scrivi na maior, mas conjuntos ‘menores’, facilmente se perderiam num fracasso retumbante.
Os altos e baixos de Rita Pavone, de volta da América com uma dança e um noivo, novos em folha.
Artigo de Maso Biggero & Giorgio Ambrosi, enviados da revista ‘TV Sorrisi & Canzoni’
Foi o maior choque, bem na metade do Cantagiro, subitamente o fracasso da super “Rita ação”, logo seguida de uma reação intensa e sagaz de Teddy Reno, que em 24 horas, conseguiu restituir a confiança em sua protegida, recolocando-a no seu real “valor de mercado” e fazendo assim apagar os terríveis 5 minutos em Mestre, quando parecia que iam água abaixo o Festival dos Desconhecidos, as tournees americanas, a nova dança ‘swim’ a ser lançada e os sonhos de milhares de pretendentes a artista, que seguindo os altos e baixos de Rita Pavone, imaginam a si próprios no lugar desta Cinderella ’64, lançada de uma hora para outra na ribalta da fama.
É uma história a ser contada, pois, além de tudo, contem em si grande parte dos elementos que anima e faz palpitar esse “monstro” colossal que se movimenta há quase 10 dias através de meia Itália e que a esta hora está quase chegando ao seu final em Fiuggi.
Apresentada pessoalmente por Ezio Radaelli, organizador do evento, Rita Pavone juntou-se ao Cantagiro em Mestre, ocupando uma Spyder azul-celeste, com chapa de numero um, além de ramalhetes-de-flores e uma enorme multidão de fãs contida com dificuldade pelas forças da ordem.
Rita chegava de Buenos Aires, [nota: na verdade era do Rio de Janeiro] via Roma-Fiumicino – onde havia encontrado tempo de anunciar que está noiva do baterista brasileiro Luís Franco Netinho – e com ela encontravam-se a mamãe Maria, Teddy Reno e seu pianista Stelvio Cipriani. A jovem “micro-vedete” vestia calças compridas azuis, com suspensórios do mesmo tecido, que se não fosse a branquíssima blusa de cambraia, poderiam tornar-se um “topless de tardezinha”. Conservava seu eterno ar de garotinha comum, sardenta e maravilhada por tudo, respondendo com franqueza as perguntas da Imprensa, declarando, sobretudo, querer ser uma “cantagirina” disciplinadíssima, pronta ao primeiro grito de “Adiante!” dado por Radaelli, super-ordeira na caravana-de-carros, obedientíssima a todas as tarefas dos organizadores.
Uma concessão “real” e cortês do papel de “prima-donna”, no qual se podia claramente reconhecer os ensinamentos do professor [Teddy Reno] e também uma ponta de polêmica nos confrontos com os colegas da comitiva da caravana, os “hors-concurs” Domenico Modugno e Adriano Celentano, que, ao invés de Rita, esnobavam as partidas em grupo, chegavam aos poucos aos destinos e se faziam distantes, temendo estusiasmos excessivos dos fãs.
Chegava-se assim a noite de quarta-feira 1º de julho 1964, exatamente às 23:55, quando sobre o palco montado no estádio de Mestre, diante de quase 10.000 pessoas, acolhida com uma ovação geral da multidão, Rita Pavone fazia sua entrada com “Datemi un martello”, com as primeiras notas do popular “surf” de Trini Lopez, o qual porem Pavone nunca conseguiu imprimir sua marca. Após as primeiras palavras, Rita decide de-repente descer à arena entre os espectadores. Teria sido o fim-do-mundo se os agentes e pessoal-de-serviço não tivessem levado de volta ao palco a imprudente gritona [urlatrice] que, como se nada tivesse acontecido, continuou a cantar .
Nesta altura, a “operação platéia” parecia estar à toda; jornalistas corriam aos telefones para anunciar: “Celentano e Modugno foram definitivamente derrotados”. Da platéia se gritava “Rita!Rita!”; nos bastidores os estados-maiores das gravadoras tentavam esboçar as primeiras contra-medidas. A euforia porém durou menos de cinco minutos, isto é, o espaço de uma música, a ainda não popular “Scrivi’ [veja letra na pagina 12], com a qual Pavone, coadjuvada por um grupo de 12 dançarinos, moças e rapazes não muito bem acolhidos, pretendia lançar uma nova dança, o swim, que contém elementos do “surf” e do “tamuré” e da qual não se sente, na verdade, grande necessidade na Itália.
E aconteceu com Rita exatamente o que acontece quando se joga na bolsa de valores; primeiro a ação sobe vertiginosamente e depois despenca de-repente muito abaixo de seu valor real. E realmente, o publico de Mestre, durante os poucos minutos daquela música, percebeu que havia sido incitado a um delírio que a situação não merecia e, quase como por vingança, torna-se pouco generoso, sentando-se todos ao mesmo tempo, completamente ignorando a cantora ao final de sua exibição, sem se dignar a um aplauso ou vaia, que seria uma demonstração de interesse; mas literalmente ignorando-a, num silêncio gélido quanto irreal para uma arena que continha certamente quinze mil pessoas.
Se um silêncio do gênero caísse como chumbo sobre um cantor qualquer, a reação dos “operadores” musicais seria relativamente rápida; mas quando se trata de Rita Pavone, um personagem que vale centenas de milhões por ano em discos, espetáculos e shows, a coisa assume um aspecto dramático.
Teddy Reno, a quem tudo se pode negar, mas não o senso de realidade, identificou rapidamente as razões do infortúnio e já tomou as medidas necessárias “anti conjunturais”, reduzindo a apenas uma apresentação o grupo de dança que não agradou, impondo à cantora um repertório mais popular [“Cuore”, “Il ballo del mattone”, “Come te non c’è nessuno”, etc.], trazendo para acompanha-la um conjunto mais ágil, formado de elementos dos conjuntos de Celentano, Peppino Di Capri e Little Tony; forrando de cartazes um grande ônibus pullman e cinco carros da comitiva, permitindo a um vendedor de marionetes que segue o Cantagiro de gritar pelas praças que esse ou aquele fantoche tinha sido idealizado pela própria Rita Pavone, guiando ele mesmo o carro da sua “patroa”, de modo a poder controlar a velocidade do veículo nos centros habitados, chamando a atenção da multidão com golpes oportunos de propaganda; aconselhando a cantora a usar malhas policromadas que se adaptam melhor às fotos coloridas e assim por diante. Essas medidas devolveram confiança à cantora que, depois de uma longa e triste noite transcorrida em lágrimas [a noite de Valenza Po, nas portas da Alessandria], se apresentou mais tranqüila ao seu publico.
Artigo publicado pela revista “TV Sorrisi & Canzoni” de 28 Julho 1964.
O 'caso Rita' no Cantagiro 1964
Os altos e baixos de Rita Pavone, de volta da América com uma dança e um noivo, novos em folha.
Artigo de Maso Biggero & Giorgio Ambrosi, enviados da revista ‘TV Sorrisi & Canzoni’
Foi o maior choque, bem na metade do Cantagiro, subitamente o fracasso da super “Rita ação”, logo seguida de uma reação intensa e sagaz de Teddy Reno, que em 24 horas, conseguiu restituir a confiança em sua protegida, recolocando-a no seu real “valor de mercado” e fazendo assim apagar os terríveis 5 minutos em Mestre, quando parecia que iam água abaixo o Festival dos Desconhecidos, as tournees americanas, a nova dança ‘swim’ a ser lançada e os sonhos de milhares de pretendentes a artista, que seguindo os altos e baixos de Rita Pavone, imaginam a si próprios no lugar desta Cinderella ’64, lançada de uma hora para outra na ribalta da fama.
É uma história a ser contada, pois, além de tudo, contem em si grande parte dos elementos que anima e faz palpitar esse “monstro” colossal que se movimenta há quase 10 dias através de meia Itália e que a esta hora está quase chegando ao seu final em Fiuggi.
Apresentada pessoalmente por Ezio Radaelli, organizador do evento, Rita Pavone juntou-se ao Cantagiro em Mestre, ocupando uma Spyder azul-celeste, com chapa de numero um, além de ramalhetes-de-flores e uma enorme multidão de fãs contida com dificuldade pelas forças da ordem.
Rita chegava de Buenos Aires, [nota: na verdade era do Rio de Janeiro] via Roma-Fiumicino – onde havia encontrado tempo de anunciar que está noiva do baterista brasileiro Luís Franco Netinho – e com ela encontravam-se a mamãe Maria, Teddy Reno e seu pianista Stelvio Cipriani. A jovem “micro-vedete” vestia calças compridas azuis, com suspensórios do mesmo tecido, que se não fosse a branquíssima blusa de cambraia, poderiam tornar-se um “topless de tardezinha”. Conservava seu eterno ar de garotinha comum, sardenta e maravilhada por tudo, respondendo com franqueza as perguntas da Imprensa, declarando, sobretudo, querer ser uma “cantagirina” disciplinadíssima, pronta ao primeiro grito de “Adiante!” dado por Radaelli, super-ordeira na caravana-de-carros, obedientíssima a todas as tarefas dos organizadores.
Silêncio para Rita
Uma concessão “real” e cortês do papel de “prima-donna”, no qual se podia claramente reconhecer os ensinamentos do professor [Teddy Reno] e também uma ponta de polêmica nos confrontos com os colegas da comitiva da caravana, os “hors-concurs” Domenico Modugno e Adriano Celentano, que, ao invés de Rita, esnobavam as partidas em grupo, chegavam aos poucos aos destinos e se faziam distantes, temendo estusiasmos excessivos dos fãs.
Chegava-se assim a noite de quarta-feira 1º de julho 1964, exatamente às 23:55, quando sobre o palco montado no estádio de Mestre, diante de quase 10.000 pessoas, acolhida com uma ovação geral da multidão, Rita Pavone fazia sua entrada com “Datemi un martello”, com as primeiras notas do popular “surf” de Trini Lopez, o qual porem Pavone nunca conseguiu imprimir sua marca. Após as primeiras palavras, Rita decide de-repente descer à arena entre os espectadores. Teria sido o fim-do-mundo se os agentes e pessoal-de-serviço não tivessem levado de volta ao palco a imprudente gritona [urlatrice] que, como se nada tivesse acontecido, continuou a cantar .
Nesta altura, a “operação platéia” parecia estar à toda; jornalistas corriam aos telefones para anunciar: “Celentano e Modugno foram definitivamente derrotados”. Da platéia se gritava “Rita!Rita!”; nos bastidores os estados-maiores das gravadoras tentavam esboçar as primeiras contra-medidas. A euforia porém durou menos de cinco minutos, isto é, o espaço de uma música, a ainda não popular “Scrivi’ [veja letra na pagina 12], com a qual Pavone, coadjuvada por um grupo de 12 dançarinos, moças e rapazes não muito bem acolhidos, pretendia lançar uma nova dança, o swim, que contém elementos do “surf” e do “tamuré” e da qual não se sente, na verdade, grande necessidade na Itália.
E aconteceu com Rita exatamente o que acontece quando se joga na bolsa de valores; primeiro a ação sobe vertiginosamente e depois despenca de-repente muito abaixo de seu valor real. E realmente, o publico de Mestre, durante os poucos minutos daquela música, percebeu que havia sido incitado a um delírio que a situação não merecia e, quase como por vingança, torna-se pouco generoso, sentando-se todos ao mesmo tempo, completamente ignorando a cantora ao final de sua exibição, sem se dignar a um aplauso ou vaia, que seria uma demonstração de interesse; mas literalmente ignorando-a, num silêncio gélido quanto irreal para uma arena que continha certamente quinze mil pessoas.
Se um silêncio do gênero caísse como chumbo sobre um cantor qualquer, a reação dos “operadores” musicais seria relativamente rápida; mas quando se trata de Rita Pavone, um personagem que vale centenas de milhões por ano em discos, espetáculos e shows, a coisa assume um aspecto dramático.
Um dia no Cantagiro
Teddy Reno, a quem tudo se pode negar, mas não o senso de realidade, identificou rapidamente as razões do infortúnio e já tomou as medidas necessárias “anti conjunturais”, reduzindo a apenas uma apresentação o grupo de dança que não agradou, impondo à cantora um repertório mais popular [“Cuore”, “Il ballo del mattone”, “Come te non c’è nessuno”, etc.], trazendo para acompanha-la um conjunto mais ágil, formado de elementos dos conjuntos de Celentano, Peppino Di Capri e Little Tony; forrando de cartazes um grande ônibus pullman e cinco carros da comitiva, permitindo a um vendedor de marionetes que segue o Cantagiro de gritar pelas praças que esse ou aquele fantoche tinha sido idealizado pela própria Rita Pavone, guiando ele mesmo o carro da sua “patroa”, de modo a poder controlar a velocidade do veículo nos centros habitados, chamando a atenção da multidão com golpes oportunos de propaganda; aconselhando a cantora a usar malhas policromadas que se adaptam melhor às fotos coloridas e assim por diante. Essas medidas devolveram confiança à cantora que, depois de uma longa e triste noite transcorrida em lágrimas [a noite de Valenza Po, nas portas da Alessandria], se apresentou mais tranqüila ao seu publico.
Artigo publicado pela revista “TV Sorrisi & Canzoni” de 28 Julho 1964.
Best memories. Documentos incríveis que felizmente foram guardados. Raridades, emocionam!
ReplyDeleteThanks MRMemoria for your comment...
ReplyDeleteGenial
ReplyDeleteGenial
ReplyDeleteThanks for you comment...
ReplyDeleteDear Carlus Maximus, concordo plenamente com os comentários anteriores: relato completo da trajetória do conjunto The Clevers, e Rita Pavone no 'Cantagiro 1964'. Parabéns!
ReplyDeleteDearest Doris, thank you very much for the kind comments.
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